terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

PAIXÃO PELOS LIVROS

Quando eu era criança, livro era uma caixa surpresa que me fazia sonhar, viajar por mundos misteriosos e maravilhosos. Sem exagero, o livro era meu brinquedo favorito!

Devo essa paixão à minha mãe adotiva. Mesmo sem ter frequentado uma escola por muito tempo (trabalhou a vida toda como empregada doméstica!), ela me levava à biblioteca municipal de Santa Bárbara d´Oeste, esta pequena cidade no interior do estado de São Paulo, onde cresci e moro até hoje.
Eu não passava um dia sem ler, e como não podíamos comprar livros sempre havia um emprestado da biblioteca lá em casa. Eu lia, me encantava, e devolvia para pegar logo outro.

Cresci e continuo lendo, me divertindo, aprendendo, sonhando, viajando através da leitura. Tenho um companheiro de viagem muito especial, meu filho Bruno, que tem seis anos. Ele também não passa um dia sem ler ou ouvir uma história!

Além de ler, eu escrevo. Agora, eu mesma faço “caixinhas surpresa” para outras crianças sonharem. De vez em quando visito escolas que adotam meus livros e é sempre um prazer conversar com os leitores, ouvir suas impressões sobre o que escrevi, dar e receber carinho. E também conversar sobre literatura, outros livros, outros autores...

Assim, pouco a pouco, vou realizando um dos meus sonhos, que é o de semear a paixão pelos livros.

Ao fazer este blog (com a ajuda preciosa e generosa de minha amiga Tânia Martinelli!) eu também pensei nisso. Em semear e partilhar essa paixão!




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sábado, 5 de fevereiro de 2011

ALGUNS POEMAS DE MEZZO VÔO


capa de Mario Rui Feliciani



EPIFANIA

Ceva
e espera:

o vôo da voz virá.





ANIVERSÁRIO

Em terra árida
a árvore que o sonho plantou
abriu-se:

toda amarela,
                      floresci

- entre a miséria
                        e o sol.
                                                              

ORIGENS

1
Persigo o sonho
                    do vôo
desde sempre,
desde antes
de nascer.

Sobrevoava abismos e subia
rumo às nuvens
(bracinhos abertos)
                    no céu dos sonhos
de minha mãe:
mulher que não me gerou
mas amparou-me
                              na queda
e cultivou minhas asas.

Essa mulher da terra
também aprendeu
a alçar vôo.



2
Cidadezinha,
pracinha,
bibliotecazinha.
Dentro delas,
o castelo:
                       livro-asa
livro-água
nas mãos em concha
da menina lagarta que sonhava
borboletas cor-de-nuvem.

Quartinho
(penico, lamparina, espiriteira).
Dentro dele,
                                 estrelas
nasciam dos lábios cansados da mãe
— de olhos fechados pelo peso da lida —
                                 voavam
e enchiam a boca sedenta de asas
da menina
sempre acordada.



MEZZO VÔO

Prefácio

Para quem nasce “menina lagarta”, parece que a vida minúscula, desolada, já está traçada. Está destinada a ela porque tem pela frente os fossos sociais que conhecemos tão bem. O mundo da poesia, da música, da arte, dos livros, enfim, parece um projeto absurdo diante da necessidade de sobreviver. Sônia Barros é econômica para tratar com precisão este quadro social:
Quartinho/ (penico, lamparina, espiriteira).”

Alguns, entretanto, pela imaginação que insiste em brotar em terra hostil, acabam por conseguir levantar vôo. As histórias que nascem dos lábios da mãe cansada incendeiam a imaginação da menina. Há, porém, os que ficam perdidos pelo caminho sem poder sentir “dos dedos do vento, / o alívio/ do vôo-véu?”
(...) 
Sônia Barros compõe uma delicada partitura, cheia de temas recorrentes. Uma música de câmara que ora ilumina ora escurece. A voz do poeta está presa ao próprio sentido do corpo. Ressalto uma palavra que muda bastante o contexto. Há uma mudança de ponto de vista quando o poeta deixa de olhar para o alto e volta seu olhar para a relva e as formigas. É quando surgem os olhos do filho. Da sobrevivência improvável (Origens) ao nascimento do filho, completa-se assim um ciclo. A poesia surge como uma possibilidade de reflexão sobre esse trajeto e de cauterização de tantas feridas.

Encaro os poemas de Sônia como um interrogar-se sobre a capacidade poética. Uma necessidade de refletir sobre sua poesia antes mesmo de lançar-se sobre ela. Ela teve a necessária paciência. Cevou e esperou. Ela veio. Agora, é perder o medo e buscar a inteireza do vôo. É entregar-se àquela que o poeta Rubens Rodrigues Torres Filho chamou de “a obscura religião dos pássaros".
                                                        
Donizete Galvão

(capa de Mario Rui Feliciani: http://www.mario.rui.sites.uol.com.br/)

ONDE O CÉU ACONTECE

Atual editora, 72 páginas, a partir do 8º ano  -                    ilustrações Ivan Coutinho

Fernando é jovem, tem dúvidas quanto à escolha de uma profissão, e, desde a infância, tem problemas de relacionamento com o pai, que é alcoólatra. Recentemente sofreu muito a perda do tio, poeta e jornalista, que sempre foi seu melhor amigo.

Com o tio, Fernando aprendeu que é preciso “fazer o céu acontecer nesta vida”. Pensando nisso, e estimulado pela namorada, ele resolve fazer uma viagem para dentro de si mesmo, e sai de casa de bicicleta, sozinho, durante as férias.
Enquanto pedala pela cidade, entra em contato com a bondade e com a maldade, consigo mesmo e com muitas pessoas e situações inesperadas.

Além de citar poemas e poetas (Drummond, Manuel Bandeira, João Cabral, Fernando Pessoa, Sophia de Mello Andresen) na voz do tio de Fernando, a autora escolheu para epígrafe do livro versos do poeta Ferreira Gullar (também mencionado num dos capítulos).

Gullar, generosamente, cedeu para a abertura do livro versos de seu poema Extravio, de Muitas vozes: "Estou desfeito nas nuvens:/vejo do alto a cidade/ e em cada esquina um menino,/ que sou eu mesmo, a chamar-me".

O SEGREDO DA XÍCARA COR DE NUVEM

Editora Moderna, 
56 páginas, 
Ilustrações de Ana Terra

Sugestão de leitura: leitor em processo 
Temas: relacionamento familiar e afetivo, valorização do idoso.

O segredo da xícara cor de nuvem é uma história encantada e, ao mesmo tempo, real. Uma princesa de porcelana em seu castelo-cristaleira passando de geração a geração.
Comovente história de Aninha, que um dia foi menina, neta de Ana, e hoje é avó da menina Marina.
O segredo tão secreto, quando, enfim, revelado, mostra que pequenos instantes podem ser grandes, como uma xícara transbordante de afeto a ser compartilhado. Pois a vida só vale quando existe partilha!


Preciosidade - transcrição de um cartão manuscrito recebido do escritor Bartolomeu Campos de Queirós sobre o livro:

Sônia, amiga minha
Gosto de arroz-doce. É um doce delicado, com sabor macio, leveza de nuvem, e faz bem para quem acredita que é preciso alimentar a alma.  
Assim foi seu livro. Chegou e li. Depois fiquei querendo mais como se raspando a xícara de arroz-doce. 
Muito obrigado, mais uma vez, e muita alegria sempre para continuar nos devolvendo a infância de maneira tão lúdica, inventiva e doce. 
Abraços do Bartolomeu Queirós


As ilustrações são de Ana Terra: http://www.anaterrailustra.blogspot.com/.


SEGREDOS DE SEIS CORAÇÕES

Editora Scipione, 72 páginas, a partir do 7º ano
ilustrações Eliana Delarissa

Seis adolescentes - três meninas e três meninos - todos com 15 anos, abrem os corações e revelam ao leitor suas alegrias, tristezas, dúvidas, medos, segredos! Para isso, usam meios diferentes: carta para a melhor amiga, página de diário, conversa com o espelho, arquivo secreto no computador, monólogo interior e e-mail.  

Apesar de terem a mesma idade, são muito diferentes entre si. Cada um mora num lugar do país: Santa Bárbara d’Oeste, SP (cidade da autora); Rio de Janeiro, RJ; Vitória, ES; Porto Alegre, RS; zona rural, no nordeste; São Paulo, capital. Além disso, cada um vive situações sócio-econômica e cultural distintas.

Temas abordados: relacionamento familiar, uso de drogas, violência, preconceito racial, escolha da profissão, exploração do trabalho infantojuvenil, gravidez na adolescência, entre outros.

ASAS DE DENTRO

Editora Scipione, 64 páginas, a partir do 4º ano
ilustrações Rogério Coelho:
www.rogeriocoelhoilustrador.blogspot.com
Rosinha é uma menina diferente dos padrões considerados normais pela sociedade. Por isso, sofre com o preconceito de algumas pessoas. Na escola, por exemplo, conhece o bullying infantil, ao ser discriminada e humilhada.
No entanto, essa menina especial – que mora apenas com a mãe, pois o pai foi embora logo após seu nascimento - também vai encontrar pessoas com "asas de dentro", que a aceitam e a valorizam: uma escola que não rejeita alunos diferentes, amigos que aprendem a respeitá-la. Além disso, conta com o carinho de uma avó maravilhosa, e do tio, que lhe apresenta, de maneira mágica, a poesia!
O livro convida o jovem leitor a refletir sobre a diversidade e a importância de combater os preconceitos e conviver com as diferenças.



sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

CIRANDA MÁGICA

Editora Positivo,
24 páginas, a partir do 1º ano

ilustrações - esculturas de Sandra Guinle:
http://www.sandraguinle.com.br/


Os poemas deste livro retratam brincadeiras de antigamente que ainda permanecem no dia a dia de muitas crianças: amarelinha, gangorra, pula sela, pipa, pião, bambolê, bolinha de gude, entre outras.



Foram escritos a partir das belas esculturas de Sandra Guinle, irmã da autora.

A brincadeira que nomeia o livro, a ciranda, representa a fraternidade entre os pequenos: todos de mãos dadas, embalados pela mesma canção.

Cada poema é um convite à brincadeira, pois como diz o educador Celso Antunes, para quem o livro também é dedicado, “brincadeiras são essenciais para a alegria de crescer!”


COISA BOA

Editora Moderna,
48 páginas, a partir do 2o ano

Ilustrações Elisabeth Teixeira: www.elisabethteixeira.blogspot.com

Poema narrativo em que cada estrofe começa com a expressão "Coisa boa". Com versos breves e delicados, o poema nos fala de um dia na vida de um menino. Do acordar ao dormir, passando pelo café da manhã, a ida à escola, a volta para a casa, até o momento de ir para a cama, o menino reconhece as dádivas que recebe.


Coisa boa, em linguagem simples e rica em metáforas, além de ser um incentivo a explorar o universo da poesia, dá oportunidade ao leitor de contemplar e valorizar situações corriqueiras do dia a dia. Pois os pequeninos instantes, que às vezes passam despercebidos, podem ser preciosos.

Como uma "xícara de carinho" no café da manhã:




                                           
                   Coisa boa
                   é logo de manhã cedinho
                   beber uma xícara de carinho
                   preparada por alguém
                   que me quer bem.


     


                                                 
A presença de um amigo:



Dormir ouvindo histórias:




Não por coincidência, a autora emprega como epígrafe versos de O guardador de rebanhos (de Alberto Caeiro, o heterônimo de Fernando Pessoa mais próximo da simplicidade da natureza), falando da criança que vive dentro de nós.



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PASSEIO NO TREM DA POESIA

Editora Positivo, 
36 páginas 
Sugestão de leitura: leitor iniciante

Ilustrações: Jinnie Anne Pak

O livro se divide em três partes:
“Vagão da bicharada”,
“Vagão da criançada” e
“Vagão das palavras”.

Os poemas jogam com as imagens e com a sonoridade dos versos. Por meio de um olhar sensível, a autora revela o fascínio que a leitura pode provocar nos leitores. E também (usando um poema como exemplo) mostra o poder da palavra, para o bem ou para o mal:

MEL
Palavra voa feito abelha
de boca em orelha,
levando mel e coisa boa.

Quando a abelha é brava
não deixa o mel, só aferroa!

SAUDADE DOÍDA

Quinteto editorial, 48 páginas, a partir do 4º ano
ilustrações Camila de Godoy Teixeira


É a história de Mila, menina que sente uma “saudade doída” de sua mãe, que morreu. Além da perda, ela ainda enfrenta o preconceito na escola: sofre com o bullying infantil. 

Mas com a ajuda do pai, o carinho dos avós, a atenção dos professores, Mila vai superar esse momento tão difícil. E vai, pouco a pouco, transformando a saudade numa lembrança cheia de amor. Descobre que a mãe estará para sempre a seu lado!

O GATO QUE COMIA COUVE-FLOR

Atual editora, 16 páginas
ilustrações: Mariângela Haddad


indicação: pré-escola e séries iniciais
Temas: diversidade, nutrição, amizade


Através de um poema divertido e, ao mesmo tempo, lírico, o leitor vai conhecer Pipoca, um gato muito diferente! 
De maneira bastante atraente, o poema valoriza as preferências individuais. Afinal, cada um, seja bicho, seja gente, tem seu jeito próprio de ser, e merece respeito. Indiretamente, o texto diz "não" ao preconceito.







"Desde pequenininho,
devorava verduras e frutas
e torcia o focinho
para sardinhas e trutas.

Queria distância de salame,
mas adorava sopa de inhame!"


Leia o que escreveu a escritora e educadora Fanny Abramovich na quarta-capa do livro:

Um novo livro de Sônia Barros para ser saudado e saboreado. Um poema musical, com jeito de desenho animado, sacadas divertidas e rápidas, bem gostoso de ler e muito ritmado de ouvir. Pelas páginas do livro a gente vai acompanhando as puladas do gato Pipoca, um gato mui diferente de qualquer outro. (...) Que faz o leitor pular de contenteza e de vontade de também comer couve-flor!



O QUE É QUE EU FAÇO, AFONSO?

Atual editora, 24 páginas, a partir do 2º ano
ilustrações Semíramis Paterno

Clara tem sete anos e é filha única. Ao ganhar um irmãozinho, sente-se em conflito. Dentro de seu coração começa uma verdadeira briga entre dois sentimentos. De um lado, o ciúme, a “vontade de não ter irmão coisíssima nenhuma”! De outro, o carinho pelo bebê.

Afonso é o enorme urso de pelúcia que vive esparramado num canto do quarto de Clara, amigo e confidente da menina. É para Afonso que ela pergunta: “O que é que eu faço?”. E, pouco a pouco, vai descobrindo como lidar com essa novíssima situação.


Para conhecer um pouquinho mais a história clique aqui:
http://www.canalkids.com.br/arte/literatura/oque.htm

UM BICHINHO SÓ PRA MIM

1a. Edição - 1997

Quinteto, 28 páginas
Ilustrações de Alberto Llinares


Veja a edição comemorativa de 20 anos - 2017

Acesse aqui:UM BICHINHO SÓ PRA MIM - NOVA EDIÇÃO



Quinteto editorial/FTD, 32 páginas
Indicação: leitores iniciantes
Edição comemorativa de 20 anos
Ilustrações de Arthur Vergani

Poema narrativo (quadrinhas) que conta a história de um menino que deseja um bichinho de estimação. Diante da negativa dos pais e de muitas tentativas frustradas, o menino resolve pedir ajuda ao leitor.
É, portanto, um livro interativo em que a criança leitora (ou ouvinte, se ainda não for alfabetizada) é convidada a refletir sobre a situação do personagem e dar sugestões para ajudá-lo. 

DIÁRIO AO CONTRÁRIO



Atual editora, 72 páginas, a partir do 6º ano     
ilustrações Roberto Weigand           

Eduardo é um adolescente que, embora não goste muito de escrever e ache que “diário é coisa de menina”, um dia sente vontade de registrar por escrito momentos marcantes de sua vida. Essa vontade aparece depois que o maior de todos os seus sonhos se realiza. Assim, nasce o diário ao contrário!

Dudu volta no tempo e vai relembrando os acontecimentos dos últimos meses até chegar no dia 24 de dezembro, véspera de Natal, quando ele recebe o maior de todos os presentes: uma família!

No final do livro há uma entrevista com a autora Sônia Barros, que, assim como o protagonista do Diário ao contrário, também é filha adotiva.  A leitura da história e da entrevista leva o leitor à refletir sobre a importância dos laços que unem uma família. Não importa se esses laços são de sangue, mas, sobretudo, devem ser de amor.





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